Sintomas psicopatológicos sob a poluição: O papel da regulação emocional / Psychopathological symptoms under smog: The role of emotion regulation


Chen, S., Kong, J. Yu, F., & Peng, K. (2018). Psychopathological symptoms under smog: The role of emotion regulation. Frontiers in Psychology, 8, 2274. doi: 10.3389/fpsyg.2017.02274

Resenhado por Brenda Fernanda

A poluição severa do ar na China tem sido reconhecida como “smog” e diz respeito a um problema crítico em relação à saúde de milhões de pessoas. A poluição do ar é composta por diversas substâncias químicas e biológicas que podem ser nocivas aos seres humanos. Em função disso, tem crescido a atenção dada às implicações que a poluição pode ocasionar na saúde humana, de modo que já existem evidências sobre a poluição e doenças físicas severas. Entretanto, há também a necessidade de investigar em que medida a poluição pode influenciar a saúde mental e desencadear psicopatologias. Acredita-se que a poluição esteja associada ao aumento de sintomas depressivos, ansiosos e até obsessivo-compulsivos. Além disso, a experiência da poluição, sendo um estressor diário, tende a causar a vivência de mais emoções negativas.
A regulação emocional (RE) pode ser definida como estratégias de enfrentamento utilizadas frente às vivências emocionais cotidianas. Diz respeito à forma como modulamos e expressamos nossas emoções. Duas das principais estratégias de RE que têm sido estudadas são a supressão emocional e a reavaliação cognitiva. Considerando o papel importante que a RE desempenha para o desenvolvimento de psicopatologias, o presente estudo, de delineamento longitudinal, objetivou investigar os possíveis efeitos da RE nos sintomas induzidos pela poluição.
Participaram do estudo 120 estudantes universitários, em dois momentos: em uma semana com baixos índices de poluição do ar (T1), responderam questionários sociodemográficos, de sintomas psicopatológicos (Symptom Check List-90 – SCL-90) e de regulação emocional (Questionário de Regulação Emocional – QRE). Após um mês, com índices de poluição considerados moderados a severos (T2), os dados sobre psicopatologia foram novamente respondidos, porém por apenas 102 participantes.
Os resultados demonstraram que, nos dias com maior poluição (T2), os índices de sintomas obsessivo-compulsivos foram maiores (p < 0,001), bem como a sintomatologia depressiva (p < 0,05). No que concerne à relação com a RE, a supressão emocional esteve associada à mudança de sintomas como somatização, distresse (r = -0,23; p < 0,05), ansiedade (r = -0,28; p < 0,01) e hostilidade (r = -0,22; p < 0,05). Realizaram-se análises de correlação de ordem-zero, que indicou que a supressão emocional não esteve diretamente associada ao efeito nas variáveis psicopatológicas. Além disso, os resultados da regressão hierárquica linear indicaram que a supressão contribuiu significativamente para predizer as mudanças nos níveis de sintomas de distresse. O estudo apresentou evidências peculiares no que diz respeito à correlação negativa entre supressão emocional e sintomas psicopatológicos, uma vez que esta estratégia tem sido considerada mal adaptativa. No entanto, destaca-se que, a curto prazo, a supressão pode ser uma estratégia efetiva.
Ao considerar o cenário climático atual, principalmente frente às queimadas ocorridas no Brasil recentemente, destaca-se a relevância da realização de estudos que façam o rastreio de fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento de psicopatologias. Cabe, ao psicólogo da saúde, a realização de intervenções psicoeducativas, com caráter preventivo, bem como a assistência clínica àqueles com sintomas psicopatológicos decorrentes da poluição e queimadas.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.