Bem-Estar Subjetivo e Traços de Personalidade em Crianças: Uma Relação Possível?


Gasparetto, L. G., Bandeira, C., & Giacomoni, C. H. (2017). Bem-estar subjetivo e traços de personalidade em crianças: uma relação possível? Temas em Psicologia25(2), 447-457. doi: 10.9788/TP2017.2-03

Resenhado por Daiane Nunes

            A experiência subjetiva tem sido investigada através de diferentes construtos. Um deles é o Bem-Estar Subjetivo (BES), que busca entender como e por que as pessoas vivenciam suas vidas de maneira positiva. O BES é constituído por um fator global que abarca componentes afetivos e cognitivos. Os componentes afetivos incluem os afetos positivos e negativos, enquanto que a dimensão cognitiva envolve o julgamento individual sobre sua qualidade de vida. Este construto tem sido fortemente associado a traços de personalidade. Fatores de personalidade têm se destacado como possíveis indicadores de BES, juntamente a fatores objetivos como, por exemplo, o estágio desenvolvimental do indivíduo, a cultura e o nível socioeconômico. Assim, considerando o papel dos traços de personalidade na vivência de bem-estar, o presente estudo objetivou analisar as possíveis relações entre bem-estar subjetivo e traços de personalidade em crianças brasileiras.
            O estudo contou com a participação de 143 crianças com idade entre cinco e 11 anos (M = 8,17; DP = 1,80), em sua maioria do sexo masculino (50,7%). Os instrumentos utilizados incluíram um questionário sociodemográfico, a Escala de Afetos Positivos e Negativos para Crianças – Pré-escola (Giacomoni, Bandeira, & Hutz, 2017), a Escala Multidimensional Satisfação de Vida para Crianças – Versão Reduzida (Giacomoni, Bandeira, Zanon, & Hutz, 2015) e a Escala de Traços de Personalidade para Crianças – ETPC (Sisto, 2004). Para análise dos dados, realizou-se como método a Correlação de Pearson.
           Os autores constataram que os afetos positivos foram correlacionados com o traço de personalidade Sociabilidade (r = 0,31, p < 0,01), Extroversão (r = 0,30, p < 0,01) e Psicoticismo (r = -0,29, p < 0,01). Os afetos negativos, por sua vez, apresentaram correlação com traço de personalidade Sociabilidade (r = -0,41, p < 0,01), Psicoticismo (r = 0,42, p < 0,01) e uma baixa correlação com traço de personalidade Extroversão (r = 0,04, p < 0,01). O componete Satisfação de Vida apresentou correlações significativamente medianas com Neuroticismo e Psicoticismo (respectivamente r = -0,29, p < 0,01; r = -0,33, p < 0,01). Esses achados demonstram que crianças extrovertidas e interessadas no bem-estar dos outros parecem vivenciar baixos níveis de Afetos Negativos. Além disso, crianças com traços de personalidade Neuroticismo e Psicoticismo mais predominantes tenderiam a apresentar uma avaliação mais negativa sobre si mesmas, bem como vivenciariam altos níveis de sofrimento psicológico, solidão e uma percepção de que os eventos de sua vida são incontroláveis (lócus de controle externo).
            Por fim, os autores destacam que estes resultados contribuem com o direcionamento para realização de futuros trabalhos sobre o papel dos traços de personalidade no bem-estar subjetivo em crianças.  




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