Psicologia da saúde: Visão geral e questões profissionais


Marks, D. F., Sykes, C. M., & McKinley, J. M. (2003). Health psychology: Overview and professional issues. In Irving B. Weiner (Ed.), Handbook of Health Psychology (pp. 05-23). Nova Jersey, EUA: John Wiley & Sons.

Resenhado por Amanda Feitosa

A área da psicologia da saúde tem crescido nos últimos anos e cada vez mais seus profissionais conseguem posições de destaque nos sistemas de saúde e setores médicos, sendo que sua multidisciplinaridade se caracteriza como um dos fatores que permitiu esse rápido crescimento. Da mesma forma que essa área se expandiu, também cresceu a preocupação em formar profissionais capacitados e com experiência suficiente para atuar em campo. Assim, o presente capítulo discorre sobre como questões profissionais, a exemplo do estudo e treinamento de psicólogos da saúde, são discutidas ao redor do mundo.
A definição atual de psicologia da saúde elaborada por Matarazzo é amplamente debatida, a qual afirma que esse campo deve se dedicar a promoção de saúde e a prevenção, reabilitação e diagnóstico de doenças e disfuncionalidades. Alguns pesquisadores alegam que, por ser abrangente demais, ela não consegue precisar qual o papel da psicologia da saúde. O debate sobre a necessidade do estreitamento dessa definição é extenso, com teóricos procurando formas de distinguir as atribuições desta área de outros campos. Os críticos também argumentam que o modelo biomédico recebe um foco desnecessário e que a psicologia da saúde deveria dar ênfase aos aspectos sociais. Seja qual visão prevalecer, entende-se que o emprego das teorias, pesquisas e conhecimento desse campo deve se voltar para a promoção e manutenção do bem-estar.
Existem duas abordagens diferentes na psicologia da saúde. A primeira é baseada no modelo biomédico e inclui o seu campo no domínio clínico. Esta se vincula aos sistemas de saúde e é chamada de psicologia da saúde clínica, a qual se volta para a prestação de serviços de saúde. A segunda abordagem, pesquisa e ação comunitária, também trabalha na promoção e prevenção de doenças, porém com foco em comunidades e grupos. Essa segunda tem como diferencial colocar a psicologia da saúde em um contexto mais amplo em que se propõe a atuar em diferentes níveis da sociedade. Ambas as abordagens são importantes e complementares, apesar do seu treinamento ocorrer de forma separada e pouco ter sido feito para integrá-las.
A educação e o treinamento em psicologia da saúde nos Estados Unidos dividem-se de maneira semelhante às abordagens apresentadas, oferecendo os dois modelos a seguir como alternativas. O primeiro modelo é o mais tradicional e é considerado uma extensão do modelo biomédico, tendo como foco problemas clínicos de pacientes no sistema de saúde. Em contrapartida, o modelo da psicologia da saúde comunitária prega uma colaboração ativa entre pesquisadores, profissionais da saúde e membros da comunidade considerando o contexto sócio histórico e cultural das pessoas. Para se tornar um psicólogo da saúde no país é preciso uma sequência de três estágios que vão desde estudos pré-doutorado até dois anos de residência no pós-doutorado, e o seu ingresso no treinamento só é possível após anos de dedicação em residência, supervisões e estudos. O currículo estadunidense baseia-se nas orientações da APA, com o conteúdo aprendido cobrindo aspectos básicos comportamentais e biológicos até a exigência de maestria em técnicas de intervenções, terapias em grupos, habilidades de consultoria e entre outros.
A Europa também desenvolveu competências específicas para formar um psicólogo da saúde, sendo esperado que esses profissionais tenham formação suficiente para possuir a autonomia e independência necessária de outras profissões da saúde. Nesse continente há o diferencial dos desafios do aumento do uso dos sistemas de saúde, mostrando-se necessário que os psicólogos da saúde tenham um treinamento apropriado para lidar com os possíveis problemas que podem surgir. As diretrizes de treinamento para esses profissionais variam entre os países devido aos seus diferentes sistemas educacionais. Em uma tentativa de uniformizar o treinamento, a Federação Europeia de Associações de Psicólogos Profissionais traçou como requisitos: base de conhecimento acadêmico em psicologia, o entendimento de aspectos biológicos e sociais, saber aplicar habilidades psicológicas nos cuidados de saúde, ter habilidades de pesquisa e de ensino e possuir conhecimento dos aspectos éticos e profissionais de sua profissão. O desenvolvimento da profissão do psicólogo da saúde nesses países depende da implementação de um treinamento de qualidade, os quais ainda estão longe do nível de estrutura encontrado nos programas estadunidenses.
Diferentemente dos outros países europeus, o Reino Unido possui regulações especificas para a prática da profissão do psicólogo da saúde. A educação e o treinamento desses profissionais ficam sob a responsabilidade da Sociedade Britânica de Psicologia (BPS), a qual exige uma qualificação mínima de pós-doutorado, ser um membro registrado desta e demonstrar competências em 21 unidades distribuídas em quatro domínios obrigatórios e dois optativos. Os domínios dividem-se em competência profissional, pesquisa, consultoria, ensino e treinamento. O treinamento do profissional ocorre durante o período de dois anos e sua experiência de trabalho pode ser pago, voluntário e de caráter acadêmico ou não. Por fim, a avaliação dessas competências é realizada com um exame oral e a submissão de um arquivo que inclua, por exemplo, suas praticas diárias e um relatório de supervisão, a fim de que com isso se possa atestar sua qualificação.
 Os modelos dos países aqui apresentados têm aspectos em comum, por exemplo, a exigência de habilidades de ensino, consultoria e pesquisa, as quais são requisitos essenciais para a formação de um profissional de saúde seja onde for que ele trabalhe. As principais diferenças encontradas foram habilidades que, ao passo que em alguns países mostram-se obrigatórias, tornam-se opcionais em outras. Um problema marcante é a lacuna existente no treinamento de habilidades como comunicação, consultoria e gerenciamento que o próprio currículo da APA omite. Assim, percebe-se que há falta de unanimidade entre as diretrizes desses países. Há também a crítica de que se deve existir a profissionalização da psicologia da saúde, questionando se ela está pronta para a mudança de status que isso requer. A psicologia da saúde é uma área nova e com muito a oferecer, assim, deve se ir além do padrão tradicional influenciado pelo modelo psicossocial e introduzir novas perspectivas e métodos sobre como agir na melhora da saúde da sociedade como um todo.
O psicólogo da saúde também deve estar atento a questões éticas e políticas. É preciso que ele entenda as dimensões éticas de suas ações, além de estar ciente das questões políticas que rodeiam a sua profissão. A desigualdade é uma realidade comum à maioria das pessoas, e entender as suas consequências é essencial para o psicólogo. Este precisa ter o entendimento de quais determinantes irão influenciar a saúde das pessoas e quais os grupos mais vulneráveis, e também como lidar com os serviços de saúde cada vez mais sobrecarregados e dispendiosos. O acesso à saúde é um direito inalienável, não importando a origem, classe, gênero ou qualquer grupo que a pessoa pertença. Dessa forma, percebe-se que o campo da psicologia da saúde é um campo novo em que a educação e o treinamento dos seus profissionais são essenciais para que eles possuam o nível de competência necessária para lidar com as exigências da sociedade.
A contribuição da psicologia da saúde na promoção e nos cuidados em saúde tornou possível sua inserção em diversos campos, o que destaca o seu aspecto multidisciplinar. Visto isso, entende-se que a boa formação desse profissional seria o primeiro passo para que ele possa atuar ativamente e usar seu potencial para contribuir com a saúde das pessoas em geral. Portanto, o desenvolvimento adequado dessa profissão de forma que ela se comprometa em fazer o que propõe, possibilita que o psicólogo da saúde esteja apto para lidar com as demandas da sociedade.

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