Avaliação de transtornos da personalidade em moradores de rua
Bartholomeu,
D., Carvalho, L. F., Montiel, J. M., & Pessotto, F. (2015). Avaliação de
transtornos da personalidade em moradores de rua. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(2), 488-502. doi: 10.1590/1982-370301992013
Resenhado por Uquênia Lemos Brito
Pessoas em situação de rua, ainda que sejam
um grupo heterogêneo, apresentam características em comum, como: condição de
pobreza, inexistência de moradia regular, entre outros. Entre os fatores que
levam uma pessoa a morar na rua, estão: a situação de ruptura de relações familiares, com
o mercado de trabalho e a não participação social efetiva, gerando assim uma
exclusão social. Ainda existem outras variáveis que também influenciam
para a pessoa ir morar na rua, como violência, drogas e problemas de saúde. No que se refere
à saúde, os moradores de rua podem apresentar problemas físicos, assim como
sofrimento psíquico e transtornos. No caso dos transtornos de personalidade, considera-se
que o modo de funcionamento do indivíduo esteja atrelado a decréscimos da
atuação social. Assim, o presente estudo objetivou comparar a prevalência de
tendências de personalidade patológicas entre três grupos divididos em
moradores de rua, pacientes psiquiátricos e universitários (grupo controle).
Nesta pesquisa foi utilizado como instrumento
o Inventário Dimensional dos Transtornos da Personalidade (IDPT). As respostas
aos itens foram disponibilizadas em escala Likert de quatro pontos. Os
escores foram obtidos através da fatoração bruta das respostas apresentadas. O cabeçalho
do próprio teste foi utilizado para obter dados sociodemográficos (data de
nascimento, sexo e histórico de tratamento psiquiátrico ou psicológico). Neste
último item, em caso positivo, os participantes deveriam informar por quanto
tempo. Participaram 72 moradores de rua, desempregados, com idades entre 18 e
68 anos (M = 34; DP = 11,17), sendo 90,7% do sexo masculino. Mantiveram-se na amostra
de moradores de rua apenas os que relataram não estar realizando tratamento
psiquiátrico ou psicológico, para não serem confundidos com a amostra clínica. O
grupo de pacientes psiquiátricos foi composto por 74 pacientes e a idade variou
entre 18 e 67 anos (M = 37,85; DP = 13,04), sendo 73% mulheres. Todos
desse grupo informaram estar realizando tratamento psiquiátrico e fazendo uso
de medicação. O grupo controle constituiu-se por 250 universitários, sendo na
sua grande maioria mulheres. Todos responderam negativamente sobre realizar
tratamento psiquiátrico ou fazer uso de medicação e possuíam idades entre 18 e
67 anos (M = 23,40; DP = 6,18).
Quanto aos resultados, foi possível
observar que nas pessoas em condição de rua os escores estavam acima das médias
do grupo clínico e controle em cada um dos transtornos. Os padrões de
personalidade com maiores alterações em moradores de rua em detrimento dos
demais grupos estudados foram Paranoide (M
= 2,6; DP = 0,56), Antissocial (M = 2,3; DP = 0,58), Histriônico (M
= 2,2; DP =0,68) e Esquizotípico (M = 2,5; DP = 0,75). Com isso, percebeu-se uma tendência para desconfiança,
impulsividade, necessidade de atenção e comportamentos excêntricos na amostra
de moradores de rua.
Por fim, os dados mostraram
que os problemas relacionados aos transtornos de
personalidade estão mais proeminentes em moradores de rua, demandando cuidado e atenção em termos de saúde mental. Assim,
é necessário que haja um maior direcionamento de políticas públicas e
pesquisas para essas pessoas. Dada à relevância do tema e por existirem poucos
estudos na área da psicologia para moradores de rua, fica clara a importância
da Psicologia da Saúde na promoção destas pesquisas, maior participação nas
políticas públicas e estratégias de cuidado à saúde mental dos moradores de
rua.
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