Relato de um caso de Transtorno Obsessivo-compulsivo infantil à luz da Análise do Comportamento


Silveira, C., & Vermes, J. (2014). Relato de um caso de Transtorno Obsessivo-Compulsivo infantil à luz da Análise do Comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 16(3), 82-92

Resenhado por Renata Elly

A literatura sobre transtorno obsessivo-compulsivo na análise do comportamento ressalta a relevância da análise funcional como ferramenta no processo terapêutico. Apesar dos critérios diagnósticos do DSM-IV auxiliarem na identificação de comportamentos considerados típicos em cada transtorno, ainda é insuficiente para o analista do comportamento, pois o terapeuta intervém procurando variáveis instaladoras e mantedoras dos comportamentos-problema do cliente.
O transtorno obsessivo-compulsivo, em uma das interpretações comportamentais proposta por Vermes e Zamignani (2012), difere as obsessões das compulsões. As obsessões são entendidas como imagens, ideias e/ou pensamentos intrusivos que produzem desconforto e ansiedade para o indivíduo. Já as compulsões são respostas, reforçadas negativamente, para prevenir ou eliminar as obsessões ou ansiedade. A principal estratégia utilizada por terapeutas comportamentais para intervenção nesse transtorno é a exposição gradual aos estímulos ansiogênicos, dando a devida atenção as contingências de reforçamento que operam sobre os comportamentos obsessivo-compulsivos.
O artigo apresenta o caso de uma criança de 5 anos de idade, do sexo feminino, que mora com os pais e a irmã de 12 anos. Ela é alfabetizada e estuda em escola particular. A queixa apresentada pelos pais é que a menina pedia muitas desculpas, emitia muita preocupação com o que iam pensar dela, vivia a se justificar sobre qualquer comportamento, exigia muita perfeição sobre si mesma e irritava-se quando errava nas brincadeiras ou atividades da escola. Além disso, demonstrava muita preocupação com que os pais a esquecessem na escola, perguntando repetidamente se chegariam atrasados, o que aconteceria se isso viesse a acontecer, etc. A mãe também relatou se sentir culpada pelo desenvolvimento desses comportamentos na filha, uma vez que, quando a filha desobedecia, anunciava que contaria sobre o seu comportamento para a professora preferida da criança.
O psicólogo que acompanhou o caso suspeitou que se tratava de TOC infantil, observando padrões de comportamentos obsessivos-compulsivos relacionados a segredos e insistentes questionamentos se a psicóloga contaria para alguém o que acontecia nas sessões.  Os comportamentos que foram alvos de intervenção da terapeuta, foram os obsessivos – compulsivos apresentados em sessão, como “você tá brava comigo?” (sic), “você tá triste comigo?” (sic), “desculpa?” (sic).
O terapeuta comportamental do caso em questão interviu não participando dos rituais que a criança estabelecia com ele, pois confirmar o que a cliente estava perguntando funcionava como alívio momentâneo da ansiedade da criança. Além disso, foi realizado sessões com a família sobre evitar as respostas às questões repetidas da criança, fazendo com que ela mesma pense e hipotetize respostas sobre suas próprias perguntas. O terapeuta também sugeriu que os pais mostrassem afeto com a criança não só após a realização de comportamentos bem sucedidos, para que a criança se sentisse amada independente do que realizasse. A partir disso, o reforçamento dessas contingências seria extinto e provavelmente os comportamentos frequentes de justificação também. Ao final do processo terapêutico a cliente demonstrou avanços na aceitação de pensamentos desagradáveis e supressão de antigos rituais. Foi enfatizado com a família a importância das intervenções apreendidas continuarem, mesmo após o término da terapia.

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