TCC nos transtornos alimentares: a visão dos psicoterapeutas sobre o tratamento
Oliveira, L. L.,
& Deiro, C. P. (2013). Terapia cognitivo-comportamental para transtornos
alimentares: a visão de psicoterapeutas sobre o tratamento. Revista Brasileira
de Terapia Comportamental e Cognitiva, 15(1), 36-49.
Resenhado por Sara
Andrade
Os transtornos alimentares são
caracterizados por medo de engordar, redução ou aumento exponencial de forma voluntária
do consumo alimentar. O consumo excessivo é seguido de estratégias
de descarte alimentar como uso de diuréticos e laxantes, bem como indução de
vômitos. Dentre os transtornos, os mais comuns são anorexia e bulimia, que se
tornaram problemas de alta prevalência nas últimas décadas. Não há ainda a
descoberta de uma etiologia específica para esses quadros, o que leva a
utilização de modelo multidimensional de tratamento.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se
tornou uma das principais abordagens para o tratamento dos transtornos
alimentares (Duchesne & Almeida, 2002). O tratamento consiste em técnicas
para redução da ansiedade, automanejo dos comportamentos e modificação de
distorções cognitivas. Porém, apesar de reconhecida como possibilidade de
tratamento dessas condições psicopatológicas, não há muitos estudos controlados
que demonstrem os resultados da TCC. Por isso, o objetivo do estudo foi
investigar a visão de psicoterapeutas cognitivo-comportamentais sobre o uso do
referencial teórico da TCC no tratamento de tais condições.
Utilizou-se o delineamento de Estudo de Casos
Múltiplos (Yin, 1993). Participaram quatro psicoterapeutas especializados em
TCC, que haviam atendido no mínimo cinco casos de transtornos alimentares, tendo
utilizado a TCC para o tratamento. Os psicoterapeutas responderam individualmente
a uma entrevista (desenvolvida para o estudo) com oito questões abertas, no intuito
de investigar vantagens e limitações do tratamento dos transtornos alimentares através
da TCC, como se dá o vínculo paciente-terapeuta, como a família influencia e se
envolve no processo terapêutico, participação em equipe interdisciplinar,
abordagem da etiologia da doença ao longo da terapia, critérios de alta e
necessidade de mais trabalhos científicos na área. Por fim, as entrevistas
foram analisadas por meio da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin.
Os resultados apontaram a importância do
vínculo terapêutico, da interdisciplinaridade e do envolvimento familiar no
tratamento. Entre as vantagens da TCC, foram citadas a resposta rápida, a eficácia
das técnicas, a objetividade da abordagem, a psicoeducação sobre os transtornos
e instrução nos métodos de enfrentamento. Quanto às limitações, foram
mencionados aspectos como pouca motivação dos pacientes, a não aceitação
persistente dos pacientes quanto a sua estrutura corporal/biológica (no caso
daqueles com real tendência para o ganho de peso), a falta de colaboração dos
familiares no tratamento e questões econômicas. O principal critério de alta
utilizado foi o funcionamento global adequado. Descobriu-se também um consenso
na literatura quanto à importância do vínculo terapeuta-paciente para o bom
desenvolvimento do tratamento, bem como a necessidade de um trabalho
interdisciplinar que auxilie o paciente e os familiares na luta contra o
adoecimento psicológico e alimentar.
Os autores concluíram a necessidade de novas
pesquisas na área para a consolidação e ampliação do referencial teórico da
TCC, visando a melhorar os resultados do tratamento. A Psicologia da Saúde, aliando-se
à clínica, pode contribuir para produção de pesquisas qualitativas com o
objetivo de melhor compreender como trabalham os terapeutas
cognitivo-comportamentais e sua avaliação dos aspectos positivos e
contraproducentes deste referencial teórico.
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