Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas


Marback, R. F., & Pelisoli, C. (2014). Terapia cognitivo-comportamental no manejo da desesperança e pensamentos suicidas. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 10(2), 122-129.

Resenhado por Michelle Leite.

            De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio pode ser conceituado como o ato deliberado de matar a si mesmo e se constitui como um grave problema de saúde pública. O comportamento suicida é compreendido pela ideação suicida, o planejamento para o suicídio, a tentativa de suicídio e o suicídio propriamente dito. A ideação são as cognições ligadas ao fim da própria vida; o planejamento é a fase em que o indivíduo planeja detalhes da realização do ato suicida; a tentativa é o ato, porém interrompido antes do resultado morte; e o suicídio é quando o comportamento auto agressivo resulta em morte.
            A desesperança é um dos fatores associados ao risco de suicídio. Sintoma central da depressão, é caracterizada pela a crença de um futuro sem perspectivas, perda de motivação pela vida e desejo arruinado de viver. O paciente com desesperança tende se perceber como alguém falho e sem valor, bem como analisa negativamente suas experiencias atuais e seu futuro. Pesquisas comprovam a existência da relação entre alto nível de desesperança e forte pensamento suicida.
            A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem estruturada, focal, diretiva e ativa, cuja eficácia no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos é comprovada cientificamente. Algumas estratégias e técnicas da TCC podem ser utilizadas no manejo da desesperança e dos pensamentos suicidas: identificação de pensamentos e crenças ativadas antes da tentativa de suicídio; desenvolvimento de pensamentos adaptativos como enfrentamento nas situações estressoras; treino de habilidades para resolução de problemas e controle dos impulsos; busca de ferramentas cognitivas para identificar razões para viver e promover esperança; e promoção de estratégias que ampliem a ligação do paciente com suas redes sociais de apoio.
            Na fase inicial do tratamento, deve-se trabalhar engajamento do paciente no processo terapêutico, avaliar os riscos de comportamentos suicidas, desenvolver planos para trabalhar possíveis fatores desencadeadores de crises e transmitir esperança para o paciente. Para a avaliação do risco de suicídio alguns instrumentos podem ser úteis: a Escala de Desesperança, Escala de Ideação Suicida e a Escala de Intenção Suicida. Ainda na fase inicial devem ser realizados os planos de segurança, que são compostos pelo reconhecimento de sinais que antecedem as crises suicidas, a utilização de estratégias de enfrentamento à situação e o contato de familiares ou outras pessoas de confiança.
            A fase intermediária deve enfatizar o encorajamento do paciente através da reestruturação cognitiva e mudanças no comportamento. Outrossim, o terapeuta deve criar estratégias de intervenções comportamentais, afetivas e cognitivas, que serão responsáveis pela contenção das crises suicidas; além de identificar razões para viver, por meio do aumento da realização de atividades prazerosas e utilização de lembretes que contenham essas razões, resgatando pensamentos adaptativos durante a crise. Além disso, deve promover o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas, bem como a redução de comportamentos de impulsividade; e aprimorar a rede social de apoio.  
Na fase final é primordial o foco na prevenção das recaídas, assim como a avaliação do aprendizado e das aplicações de todas as habilidades aprendidas pelo paciente durante a terapia para lidar com a crise suicida.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.