Diagnosticando depressão em pacientes internados com doenças hematológicas: Prevalência e sintomas associados
Del
Moral, A. G., Furlanetto, L. M., Gonçalves, A. H. B., Jacomino, M. E. M. L. P.,
& Rodrigues, K. (2006). Diagnosticando depressão em pacientes internados
com doenças hematológicas: Prevalência e sintomas associados. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 55(2), 96-101. doi: 10.1590/S0047-20852006000200001
Resenhado por Uquênia Lemos Brito
Evidências mostram que várias doenças físicas têm
promovido um aumento da frequência de depressão em pacientes hospitalizados.
Essa associação entre sintomas depressivos e doenças clínicas tem sido bastante
pesquisada, principalmente em cardiologia, endocrinologia e neurologia. No
entanto, são escassos os artigos sobre prevalência e sintomas associados à
depressão em pacientes com doença hematológica. Essa comorbidade é preocupante
porque um paciente clínico deprimido colabora menos com o tratamento, tem pior
controle de sua doença de base, baixa na qualidade de vida e maior mortalidade.
Sendo assim, esse estudo se propôs a verificar a prevalência de sintomas
depressivos e quais deles mais se associaram à depressão em pacientes
internados com doenças hematológicas.
Foi realizado um estudo transversal, sendo que
para participar da pesquisa o paciente deveria estar internado no setor da
hematologia do Hospital Universitário da Universidade de Santa Catarina
(HU/UFSC). Com base nisso, foram selecionados 123 pacientes para amostra,
contudo, 19 foram excluídos, sendo nove por impossibilidade física, oito devido
a prejuízo cognitivo e dois porque se recusaram a participar do estudo. Foram utilizados
questionários com as variáveis sociodemográficas e realizada uma avaliação da
história psiquiátrica do paciente e de seus familiares. A amostra (n = 104) foi composta predominantemente
de pacientes do sexo feminino (55,8%), brancos (81,7%), casados (55,8%), com idades
entre 19 e 48 anos, nível de escolaridade entre 3,7 – 6,1 anos e quinze
pacientes relataram história prévia de depressão (14,4%). Em relação ao
diagnóstico hematológico, a porcentagem de pacientes com doenças oncológicas
(52,9%) foi semelhante à dos pacientes da hematologia geral (sem neoplasias)
(47,1%).
Nesta pesquisa foi aplicado o inventário de Beck
para Depressão (BDI). Aqueles que tiveram pontuação acima de 9 na soma dos 13
primeiros itens (BDI-13) foram considerados deprimidos. Também foi verificada a
frequência caso fosse utilizada a escala completa com 21 itens (BDI-21), com
ponto de corte 16/17. A prevalência de sintomas depressivos moderados a graves
de acordo com o BDI-13 (Subescala cognitivo-afetiva) foi de 25%, enquanto que
na escala completa (BDI-21) a média foi de 32,7%. Não houve diferença na frequência
de sintomas depressivos entre os pacientes hematológicos com e sem doenças
oncológicas. Além disso, após o controle para possíveis fatores de confusão (baixa
escolaridade, maior comorbidade física e história de depressão), foi possível
detectar que os sintomas que mais se associaram ao diagnóstico de depressão
foram à sensação de fracasso, anedonia, culpa e fadiga.
Por fim, a partir deste estudo observou-se que
quanto mais precocemente se detectarem e abordarem os sintomas que se associam
à depressão, melhor será compreendida a realidade que os pacientes
hematológicos deprimidos vivenciam, visando assim uma contribuição para
melhorar a qualidade de vida e o prognóstico desses pacientes. Contudo, como
existem poucos estudos sobre prevalência e diagnóstico da depressão em
pacientes com doenças hematológicas, percebe-se a importância Psicologia da Saúde na promoção de pesquisas e estratégias
de suporte, proteção e prevenção em um maior número de pessoas com diagnóstico
de doenças hematológicas com ou sem doenças oncológicas.
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