Estresse pós-traumático, ansiedade e depressão em vítimas de queimaduras

Medeiros, L. G., Kristensen, C. H., & Almeida, R. M. M. (2010). Estresse pós-traumático, ansiedade e depressão em vítimas de queimaduras. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 62, 148-158.

Resenhado por Brenda Fernanda

Queimaduras são lesões complexas que ocasionam danos aos tecidos, podendo também causar lesões prejudiciais ao equilíbrio corporal de fluidos e eletrólitos, à temperatura, ao equilíbrio térmico, à função articular, à habilidade manual e à aparência física. A gravidade de uma queimadura costuma ser determinada por fatores como grau da queimadura, extensão da área de superfície corporal total queimada, gravidade da lesão, local da queimadura e complicações associadas, como condições físicas e mentais preexistentes e idade da vítima. Sobreviventes de queimaduras graves passam por um longo processo de reabilitação física com dor, coceira, cicatrizes, cirurgias e, em alguns casos, sequelas permanentes. Acidentes com queimaduras são eventos traumáticos graves que podem desencadear transtornos psiquiátricos, sendo mais comuns em pacientes vítimas de queimaduras: a depressão e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
O objetivo do estudo foi identificar a prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse pós-traumático em pacientes vítimas de queimaduras, de ambos os sexos, internados no Hospital Municipal de Pronto Socorro de Porto Alegre (RS, Brasil). Participaram 24 pacientes, com idades entre 19 e 64 anos (Med = 39,0 anos; DP = 13,5). Como instrumentos, foram utilizados os questionários Rastreio para Sintomas de Estresse Pós-Traumático (RSEPT), o Inventário Beck de Depressão (BDI) e o Inventário Beck de Ansiedade (BAI).
No que concerne aos resultados, após traçar o perfil de sintomas pós-traumáticos entre os participantes, observou-se maior frequência da evitação cognitiva (esforços para evitar pensamentos associados ao trauma, M = 6,70), seguido por dificuldades em adormecer ou permanecer dormindo (M = 5,09), evitação comportamental (esforços para evitar atividades associadas ao trauma, M = 4,52) e incapacidade de recordar algum aspecto importante do trauma (M = 4,30). Quanto à sintomatologia ansiosa, foram identificados sintomas moderados a graves em 25% dos participantes (n = 6). Os sintomas com escore médio mais elevado foram: suor (não devido ao calor; M = 1,58), sensação de calor (M = 1,33), incapacidade de relaxar (M = 1,13), medo de que aconteça o pior (M = 1,08) e sentir-se aterrorizado (M = 1,04). Foi possível identificar sintomas de depressão moderados a graves em 30% dos participantes, de modo que sintomas mais intensos foram: preocupações somáticas (M = 1,10), irritabilidade (M = 1,05), distúrbios do sono (M = 0,93), tristeza (M = 0,83) e insatisfação/anedonia (M = 0,81). Quanto à correlação dos construtos, observou-se associação significativa entre a extensão da lesão e sintomas ansiosos (r = 0,45; p < 0,05).
Diante dos resultados observados, os autores discutem sobre a importância do suporte psicológico a pacientes vítimas de queimaduras, a fim de melhorar o enfrentamento destes à situação, bem como tratar o sofrimento psicológico ocasionado pelo acidente. As queimaduras têm sido fenômenos cada vez mais frequentes e suas consequências à saúde mental, tais como ansiedade, depressão, TEPT e abuso de substâncias, por exemplo, têm sido questões importantes de saúde pública. Portanto, destaca-se a necessidade de atenção e assistência psicológica para estes pacientes, visando a uma melhor qualidade de vida após o acidente.

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