O paciente com transtorno mental grave no hospital geral: Uma revisão bibliográfica


Prado, M. F. , Sá, M. de C., & Miranda, L. (2015). O paciente com transtorno mental grave no hospital geral: Uma revisão bibliográfica. Saúde em Debate, 39, 320–337. doi: 10.5935/0103-1104.2015S005419

Resenhado por Danielle Alves Menezes

O artigo é uma revisão bibliográfica que tem por objetivo reunir achados de pesquisas referentes ao atendimento ofertado aos pacientes com transtorno mental grave internados no hospital geral devido a complicações clínico-cirúrgicas. As autoras demonstram que, com as mudanças nas políticas públicas de saúde mental nas últimas décadas, o foco da oferta dos serviços púbicos passa a ser o acolhimento integral ao paciente em crise e não mais apenas o transtorno mental, justificando a presença cada vez maior desse público nos hospitais. Ressaltam que esses pacientes apresentam comorbidades clínicas (a exemplo de diabetes, cardiopatias, doenças pulmonares, doenças da tiroide e doenças infecciosas, como tuberculose e hepatite B e C em decorrência do uso prolongado de certas medicações, como antipsicóticos), e hábitos de vida não saudáveis (como uso de tabaco e outras drogas, falta de atividade física e alimentação adequada). Essas características tornam o paciente com transtorno mental potencialmente usuário das redes de urgência e emergência e, consequentemente, implicam um trabalho desafiador para as equipes de saúde no hospital geral.
Os artigos selecionados para a revisão mostraram que o assunto é pouco publicado, revelando uma possível negligência desse público, além de comportamento negativo ou evitativo da equipe de saúde ante o paciente com transtorno mental grave, o que pode ter consequências sobre a qualidade da assistência prestada. Os estudos apontaram que esses pacientes possuem uma longa permanência nos hospitais, com maiores custos, e são alvo frequente de erro médico, indicadores que podem demonstrar não só a qualidade da assistência prestada como também a postura dos profissionais perante o louco. As autoras explicam que essa forma de a equipe lidar com o paciente pode advir de uma angústia do contato, desencadeada pela percepção de ser um usuário imprevisível, e, portanto, desafiar a capacidade dos profissionais em controlar a situação. Outras percepções como a ideia de que esses pacientes interrompem a estrutura e o fluxo do trabalho da equipe e requerem mais tempo e esforço desta, exemplificam distorções que podem interferir em uma melhor assistência.
A psicologia da saúde, como especialidade que não só investiga comportamentos em saúde como também aspectos relativos à organização da assistência em instituições como o hospital, pode contribuir nos processos educativos das equipes desenvolvendo estratégias para que elas trabalhem o estereótipo negativo direcionado a pacientes com comorbidades psiquiátricas. Isso auxiliaria os profissionais na produção do cuidado e influenciaria positivamente as respostas dos profissionais, elevando a qualidade da assistência a esses pacientes.

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