Transtornos mentais na gravidez e condições do recém-nascido: Estudo longitudinal com gestantes assistidas na atenção básica

Costa, D. O., Souza, F. I. S. D., Pedroso, G. C., & Strufaldi, M. W. L. (2018). Transtornos mentais na gravidez e condições do recém-nascido: Estudo longitudinal com gestantes assistidas na atenção básica. Ciência & Saúde Coletiva23, 691-700. doi: 10.1590/1413-81232018233.27772015
Resenhado por Gabriela de Queiroz

                   De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 450 milhões de pessoas sofrem com algum transtorno mental (TM), o que os torna um problema de saúde pública.  É possível afirmar que as maiores prevalências se apresentam entre as mulheres, principalmente em relação aos transtornos ansiosos, depressivos e somatoformes. Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento ou exacerbação de problemas na saúde mental feminina, é possível destacar os períodos de gestação e puerpério.
            Estudos indicam que a prevalência de depressão durante a gestação é de aproximadamente 7% a 15%, e a ocorrência de ansiedade em torno dos 20%. No entanto, acredita-se que estes diagnósticos no período gestacional são negligenciados, poucas pesquisas buscam identificar as alterações psicológicas ao longo da gestação e como isto pode interferir nas condições de saúde do recém-nascido. Isso é importante pois estes quadros, quando não tratados, aumentam o risco de exposição ao álcool e tabaco, risco de desnutrição, além de gerar dificuldades em seguir as orientações do pré-natal.
            Tendo em vista a alta prevalência dos TM ao longo da gestação e os riscos a eles associados, o presente trabalho objetivou verificar a presença de prováveis diagnósticos de TM em gestantes usuárias da atenção básica e suas associações às condições de saúde do recém-nascido. Para tanto, realizou-se um estudo longitudinal com 300 gestantes atendidas em cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS), na Região Metropolitana de São Paulo. Foram incluídas gestantes primíparas e multíparas, com idade entre 18 e 39 anos, que estavam entre o segundo e terceiro trimestre de gestação e possuíam acompanhamento no programa pré-natal de baixo risco em alguma das cinco UBS selecionadas para a pesquisa. As cinco UBS foram visitadas durante seis meses para o primeiro contato e entrevistas com as gestantes (a primeira durante a consulta de pré-natal, e a segunda após o parto, afim de conhecer as condições do bebê).      Dentre as 300 gestantes participantes da pesquisa, 76 apresentaram diagnóstico provável de TM, sendo que 58 apresentavam sintomas de ansiedade/pânico, e 46 apresentaram sintomatologia depressiva/distímica. Quanto aos recém-nascidos, observou-se baixo peso ao nascer em 14 bebês, e prematuridade em 19 deles, mas não foi observada associação com os diagnósticos prováveis de TM.
            Diante dos achados, é possível afirmar que gestantes de baixo risco, mesmo em acompanhamento de pré-natal, apresentam frequência significativa de sintomatologia dos TM. Portanto, identificar tais alterações na gestação pode contribuir para a diminuição no risco de desenvolvimento ou agravamento dos TM, principalmente se a gestante tiver a oportunidade de ser acompanhada por uma equipe multiprofissional, na qual esteja inserido um psicólogo da saúde. Este profissional poderá auxiliá-la no manejo de suas emoções e comportamentos associados ao período da gestação e puerpério.  

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