O labirinto e o Minotauro: saúde mental na Atenção Primária
Hirdes, A., &
Scarparo, H. B. K. (2015). O labirinto e o minotauro: saúde mental na Atenção
Primária à Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 20, 383-393. doi: 10.1590/1413-81232015202.12642013.
Resenhado por
Lizandra Soares
O labirinto e o
Minotauro é um mito grego no qual é feita a alusão da presença de um Minotauro
(corpo de homem e cabeça de touro) em um labirinto onde são depositadas
oferendas (catorze jovens) a cada sete anos para garantir a segurança de Atenas.
No que diz respeito ao Sistema de Assistência à Saúde brasileiro, o autor faz
um paralelo com esse mito. A cabeça seria os profissionais especializados, o
corpo os profissionais generalistas, ao passo que o labirinto é todo o sistema
onde os usuários e familiares encontram-se perambulando para a realização de
tratamentos. A solução para essa problemática seria a implantação do apoio
matricial em saúde mental na Assistência Primária à Saúde (APS), o que
implicaria na diminuição do sofrimento dos usuários e seus familiares bem como redução
de gastos com tratamentos. Em outras palavras, a inserção da saúde mental às
práticas de Assistência Primária à Saúde, possibilitando o cuidado integral.
A Organização
Mundial da Saúde e a Associação Mundial de Médicos da Família apontam dez
princípios para a integração da saúde mental à Assistência Primária: 1)
incorporar cuidados de saúde mental na política de saúde na atenção primária;
2) assessorar mudar atitudes e condutas em Assistência Primária; 3) capacitar
os trabalhadores de saúde na atenção primária; 4) propor tarefas
operacionalizáveis; 5) contar com profissionais especializados em saúde mental;
6) ter acesso a medicações psicotrópicas efetivas; 7) integrar os processos; 8)
contar com um coordenador de saúde mental; 9) contar com a colaboração de
outros setores governamentais, organizações não governamentais; 10) dispor de
recursos humanos e financeiros.
Os autores afirmam
que a melhor forma de garantir que os indivíduos com transtornos mentais
recebam tratamento adequado é a inserção do cuidado em saúde mental às práticas
de Assistência Primária à Saúde. Ao se observar essa integração pode-se pensar
a criação e implementação de estratégias em saúde mental, reorganização dos
serviços nessa área e integração com outros aspectos da rede de saúde em geral.
Além disso, seria possível desenvolver recursos humanos e fortalecer lideranças
no que diz respeito a saúde mental pública. A integração da saúde mental na
Assistência Primária à Saúde, mesmo sendo desejada, enfrenta dificuldade que
prejudicam a sua operacionalização no âmbito profissional, político, ideológico
e de gestão. Sendo assim, trata-se de um processo complexo.
No que diz
respeito às limitações do artigo, trata-se de um material teórico e, sendo
assim, não apresenta dados epidemiológicos e quantitativos concretos. Sugere-se
a realização de estudos empíricos com o intuito de testar os benefícios da
inserção da saúde mental no contexto de atenção primária, por exemplo. Por fim,
para a psicologia da saúde, trabalhos como este oferecem uma visão crítica acerca
das dificuldades enfrentadas no que diz respeito ao sistema atual de
assistência à saúde mental, possibilitando a compreensão do cenário,
planejamentos de intervenções eficazes e consoantes a realidade.
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