Eventos de vida adversos na infância e psicopatologia parental como fatores de risco para o transtorno bipolar / Childhood adverse life events and parental psychopathology as risk factors for bipolar disorder
Bergink, V., Larsen, J.
T., Hillegers, M. H. J., Dahl, S. K., Stevens, H., Mortensen, P. B., ... &
Munk-Olsen, T. (2016). Childhood adverse life events and parental
psychopathology as risk factors for bipolar disorder. Translational Psychiatry, 6(10),
e929.
Resenhado por Maísa Carvalho
O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é uma
psicopatologia severa, complexa e multifatorial caracterizada por bruscas
oscilações de humor entre os polos da exaltação/euforia (mania) e depressão. Segundo
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente cerca de 140 milhões de
indivíduos são acometidos pela doença em todo o mundo. Fatores como a carga
genética, histórico familiar da doença e eventos de vida traumáticos são
apontados empiricamente como algumas das principais hipóteses de risco ao TAB.
O presente estudo investigou a ocorrência de
alguns eventos traumáticos na infância (antes dos 15 anos), variando em
frequência, gravidade e sua associação com o risco ao TAB. Esses eventos foram
classificados em prevalentes, tais como perdas familiares, doenças
psiquiátricas e somáticas parentais, além da exclusão parental do mercado de
trabalho; e nos menos prevalentes, mas graves, como a prisão parental, perda
parental e a colocação em lares adotivos. Os dados utilizados foram advindos de
um coorte que incluiu indivíduos nascidos entre os anos de 1980-1998 na
Dinamarca.
Os resultados apontaram que, durante esse
recorte temporal, mais mulheres (n = 1392) foram diagnosticadas com TAB
do que homens (n = 843) e com média de idade para 23 anos. Outro dado
constatado foi o de que de todos os portadores da doença, 30,7% (n =
686) obtiveram diagnóstico de depressão com uma média de 21 anos, com um episódio
maníaco ou hipomaníaco de uma média de 3 anos após o início do episódio
depressivo. Quanto aos eventos de vida na infância, ruptura familiar (n
= 350.987), doença somática parental (n = 177.244), psicopatologia
parental (n = 84.665) e, sobretudo, ter um pai/mãe com doença
psiquiátrica apresentou o maior risco para o transtorno posteriormente na vida.
Esses achados sugerem que a psicopatologia parental possui um forte efeito
sobre o risco do TAB e ajudam a reforçar a importância dos fatores genéticos no
desenvolvimento dessa patologia. Ademais, os eventos menos prevalentes não se
apresentaram por si só como fatores de risco à doença. Entretanto, ao serem
combinados com outros eventos adversos, aqueles possuem o risco aumentado.
Embora o estudo tenha angariado e contribuído
para a constatação da importância de alguns fatores de risco ao TAB, em
especial na infância, percebe-se que ainda são necessárias mais pesquisas sobre
o assunto. A Psicologia da Saúde e do Desenvolvimento são áreas da que podem
contribuir com o estudo dos gatilhos para essa psicopatologia, desenvolvendo
pesquisas e programas que se concentrem nos fatores de proteção à doença,
levando-os a comunidade com o objetivo de reduzir os meios de desenvolvimento
desse transtorno.
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