Fatores sociais associados a transtornos mentais com situações de risco na atenção primária à saúde


Drummond, B. L. D. C., Radicchi, A. L. A., & Gontijo, E. C. D. (2014). Fatores sociais associados a transtornos mentais com situações de risco na atenção primária à saúdeRevista Brasileira de Epidemiologia17, 68-80. doi: 10.1590/1809-4503201400060006

Resenhado por Millena Bahiano

Os transtornos mentais graves caracterizam-se, na maioria dos casos, por apresentarem situações de risco ao paciente. Nesse processo, os fatores sociais são importantes na evolução do quadro clínico e podem interferir na rotina, causando dificuldades ao indivíduo na realização das atividades habituais. A avaliação das situações de risco dos pacientes, além de indicadores da vulnerabilidade e gravidade do caso, possibilita ao profissional de saúde o reconhecimento dos indivíduos que se encontram em sofrimento psicológico e que necessitam de reabilitação, reinserção e inclusão social.
O presente estudo objetivou investigar os fatores sociais em portadores de transtornos mentais que apresentavam ou não situações de risco, conforme as prioridades da política de saúde mental. Os participantes da pesquisa foram 240 pacientes de unidades de atenção primária de saúde (APS), com idade igual ou acima de 15 anos, e que residiam em regiões de elevada vulnerabilidade social em Belo Horizonte. As informações sobre apoio social foram coletadas a partir da escala de apoio social Medical Outcomes Study (MOS) e para as informações sobre rede social, foi utilizado o instrumento elaborado por Berkman & Syme (1979). Ambos os instrumentos foram validados no Brasil pelo Grupo de Pesquisa Pró-Saúde (RJ): Determinantes Sociais da Saúde e Doença.
Nos resultados, viu-se que a média de idade da população investigada foi de 45,6 anos e a amostra foi composta por 76,4% de mulheres. Observou-se no estudo um maior percentual de homens portadores de transtorno mental com situação de risco (TM-CR) (37%), do que com transtorno mental sem situação de risco (TM-SR) (17%). Os resultados também indicaram que ser homem aumentou quase quatro vezes a chance de TM-CR. Os portadores de TM-CR apresentaram chance maior que três vezes de “não conseguirem retornar para casa quando saem da vila” e significativa carência de rede social, com maior chance de ter somente “até um parente confidente” (OR = 2,53). Quanto ao apoio social, observou-se que houve uma redução na dimensão afetiva da escala de MOS o que aumentou a chance de TM-CR. Por fim, a pesquisa evidenciou que os homens com transtornos mentais apresentaram maior chance no envolvimento em situações de risco, e portanto maior gravidade dos casos.
Para a Psicologia da Saúde torna-se importante o estudo do transtorno mental nos serviços de atenção primária à saúde. O conhecimento de variáveis atreladas às situações de risco que envolvem o indivíduo com transtorno mental, pode vir a auxiliar a prática profissional na elaboração do projeto terapêutico do paciente. Ademais, para a manutenção do tratamento desses indivíduos, são necessárias ações na rede de atenção psicossocial e com pluralidade de atuação dos profissionais da saúde.

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