Motivos para autolesão não suicida em indivíduos com transtornos depressivos e síndrome do estresse pós-traumático durante a vida / Motives for nonsuicidal self-injury in individuals with lifetime depressive disorders and posttraumatic stress disorder


Forbes, C. N., Tull, M. T., Richmond, J. R., Chapman, A. L., Dixon-Gordon, K., & Gratz, K. L. (2019). Motives for nonsuicidal self-injury in individuals with lifetime depressive disorders and posttraumatic stress disorder. Journal of Psychopathology and Behavioral Assessment, 1-10. doi: 10.1007/s10862-019-09739-w

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

Os comportamentos autolesivos são aqueles em que há lesão a si próprio, de forma intencional e sem intenção suicida. Embora identifique-se uma série de fatores que podem ter relação com a motivação para o engajamento em tais comportamentos, poucos estudos examinam diferenças na sua motivação em indivíduos com diagnósticos psiquiátricos. Nesse sentido, Forbes et al. (2019) investigaram a motivação para autolesão não suicida em indivíduos com histórico de dois transtornos psiquiátricos associados a taxas elevadas de autolesão: transtornos depressivos e transtorno de estresse pós-traumático. Assim, participaram 139 jovens adultos com histórico de autolesão, que preencheram o Inventário de Autodano Deliberado, o Questionário para Autolesão Não-Suicida sobre motivação para autolesão no decorrer da vida, 13 itens da Entrevista de Autolesão como Tentativa de Suicídio e a Entrevista Estruturada para Transtornos do Eixo I do DSM-IV.
Os resultados de Forbes et al. (2019) mostraram que 75% (n = 105) dos participantes preenchiam os critérios para pelo menos um transtorno depressivo, 21% (n = 29) se encaixavam nos critérios para transtorno do estresse pós-traumático e 16% (n = 22) atendiam os critérios para ambos diagnósticos. Os autores concluíram que o histórico de transtornos, comórbidos ou não, pode estar associado a diferentes motivações para engajar-se em comportamento autolesivo. Os participantes com transtorno depressivo diagnosticado relataram níveis significativamente mais baixos de motivos de influência interpessoal para autolesionar-se que aqueles sem transtorno depressivo, ao passo que os participantes com transtorno do estresse pós-traumático tiveram níveis mais altos de alívio emocional que aqueles sem o transtorno. Além disso, houve interação significativa entre transtornos depressivos e transtorno pós-traumático, especificamente: participantes com ambos os diagnósticos não diferiram em relação a motivos de comunicação interpessoal quando comparados àqueles com diagnóstico apenas de transtorno pós-traumático, que relataram níveis significativamente mais altos para motivação interpessoal.
A partir de estudos como esse fica destacada a importância da avaliação sistemática de histórico de transtornos (depressivo e pós-traumático, nesse caso) no trabalho e manejo clínico de pacientes que se engajam em condutas autolesivas. Tais achados podem servir de baliza para identificação de contextos funcionais mais relevantes para cada subgrupo de indivíduos que se autolesionam, permitindo, assim, a alocação de recursos mais eficazes na extinção do comportamento.

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