Convivência do familiar cuidador junto a pessoa com transtorno mental


Ramos, A. C., Calais, S. L., & Zotesso, M. C. (2019). Convivência do familiar cuidador junto a pessoa com transtorno mental. Contextos Clínicos, 12, 282-302. doi: 10.4013/ctc.2019.121.12
Resenhado por Brenda Fernanda

Durante muito tempo, a assistência à saúde mental esteve marcada pela existência de hospitais psiquiátricos que segregavam os indivíduos com transtornos mentais, marcando a estigmatização direcionada a eles. Nesse contexto, o paciente em tratamento era afastado de sua família, tanto por haver uma crença de que o ambiente familiar era fator desencadeador da doença, quanto pelo desconhecimento dos familiares em relação a como lidar com esses pacientes. Vale ressaltar também a sobrecarga física e emocional incidida sobre os membros da família, envolvendo ainda aspectos econômicos e operacionais aos quais os cuidadores são submetidos (administração de medicamentos, manejo de crises, entre outros). O presente trabalho objetivou analisar, a partir de relatos verbais, a percepção de cuidadores com algum grau de parentesco de pessoas com transtornos mentais, buscando avaliar a forma como lidavam com este familiar.
Participaram do estudo 25 cuidadores não técnicos e nem remunerados, de pacientes com transtorno psiquiátrico de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de um município do interior paulista. No que concerne à frequência de transtornos apresentados pelos pacientes encaminhados ao serviço de saúde, os cuidadores nomearam as patologias como: Esquizofrenia (6), Depressão (7), Transtorno Bipolar (1), Transtorno Encefálico (1) e outro (Surto psicótico/psicose pós-parto) (1). Para a coleta de dados, utilizaram-se um Roteiro de Entrevista Semiestruturada e o questionário sociodemográfico. Foi realizada uma Análise de Conteúdo após a transcrição das entrevistas e o material foi categorizado. 
Quanto às características sociodemográficas dos cuidadores, 48% (n = 12) deles exerciam trabalho remunerado, independentemente dos cuidados para com o paciente, dois eram aposentados (8%) e 11 não trabalhavam (44%). Destes, 45,5% (n = 5) relataram parar de trabalhar para cuidar do paciente (todas cuidadoras do sexo feminino). Cerca de metade da amostra (48%) afirmou não ter suporte de outros integrantes da família para cuidar dos pacientes. A primeira questão da entrevista dizia respeito ao que se sabia sobre a doença mental, sendo as categorias de resposta: dificuldade de entender a doença (52%); explicação a partir de sintomas (48%); distúrbio (44%) e perda das capacidades (40%). Na terceira questão, voltada para a forma como a doença mental do paciente afetou a vida do cuidador e de sua família, a categoria dificuldade em conciliar vida pessoal e cuidados apareceu em 60% dos casos. Os participantes também relataram que suas vidas foram afetadas pelo preconceito social, bem como apontaram sinais de sofrimento psicológico, sendo o estresse o mais comum deles (63,6%).
Por fim, observa-se o quanto ainda existem lacunas no que diz respeito ao conhecimento dos transtornos mentais severos, sendo necessário que essa temática seja melhor abordada. No que concerne à atuação da Psicologia da Saúde, seriam viáveis intervenções psicoeducativas que desmistificassem crenças distorcidas acerca dos transtornos mentais, difundindo um conhecimento que inclusive evitaria a perpetuação de estigmas acerca deste grupo de pacientes. Ademais, ações que ofertem assistência à saúde mental dos cuidadores também são importantes.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.