Síndrome pós-terapia intensiva (PICS)
Rawal, G., Yadav, S., & Kumar, R. (2017). Post-intensive
Care Syndrome: An Overview. Journal of Translational Internal Medicine, 5(2), 90–92. doi: 10.1515/jtim-2016-0016
Resenhado
por Danielle Alves Menezes
O artigo tem como objetivo
apresentar uma visão geral acerca do transtorno mental recentemente conhecido
como síndrome pós-cuidados intensivos (PICS). Trata-se de incapacidades
cognitivas, psiquiátricas e/ou físicas desencadeadas em
pacientes criticamente doentes em razão do cuidado ofertado na unidade de
terapia intensiva (UTI). Os impactos são preocupantes, pois os efeitos são
adversos tanto para o paciente como para os familiares (PICS-F). Este termo se
refere aos efeitos psicológicos agudos e crônicos da doença crítica na família
do paciente e inclui os sintomas vivenciados durante a doença crítica, bem como
aqueles que ocorrem após a morte ou a alta de um ente querido da UTI. Foi
observado que até 30% da família ou dos cuidadores sofrem estresse, ansiedade,
depressão e luto patológico.
Especificamente no que diz
respeitos aos impactos na saúde mental, observou-se que o risco de desenvolver transtornos
mentais após a alta da terapia intensiva varia de um a sessenta e dois por
cento na forma de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático
(TEPT). Os fatores de risco incluem o sexo feminino, menor nível de
escolaridade, incapacidade física preexistente, uso de sedação e analgesia na
UTI, além de duração do delirium na UTI, disfunção cerebral aguda (acidente
vascular cerebral, alcoolismo), hipóxia (parada cardíaca), hipotensão (sepse
grave, trauma), desregulação da glicose, insuficiência respiratória que requer
ventilação mecânica prolongada, sepse grave, ter realizado diálise e síndrome
do desconforto respiratório agudo (SDRA), comprometimento cognitivo prévio
(idade avançada, déficits cognitivos preexistentes, condições de saúde
pré-mórbidas). Já para o PICS-F, os principais fatores de risco envolvem a
falta de comunicação entre os funcionários, baixo poder decisório, o baixo
nível educacional e a presença de um ente querido que morreu ou esteve próximo
da morte.
A apresentação de PICS pode ser
variada (combinação de sinais e sintomas cognitivos, psicológicos e físicos). Os
sintomas podem durar de alguns meses a muitos anos após a recuperação, e
incluem fraqueza generalizada, fadiga, diminuição da mobilidade, humor ansioso
ou deprimido, disfunção sexual, distúrbios do sono e problemas cognitivos
(distúrbio/perda de memória, processamento mental lento, baixa concentração).
Os familiares desses pacientes podem ser afetados de forma semelhante (física e
psicológica) durante a permanência na UTI do ente querido e os efeitos podem
persistir após a alta.
Recomenda-se avaliação
psicológica do paciente que inclua: (a) histórico de internação, (b) capacidade
de se adaptar ao estresse, (c) história de medicação, (d) estado mental e
clínico atual e e) fatores ambientais e familiares. O tratamento da PICS
inclui: (a) a eliminação ou correção de fatores causais, (b) a administração
apropriada de sedativos (agentes ansiolíticos e antipsicóticos), (c) redução ou
eliminação de fontes de estresse ambiental, e (d) comunicação frequente entre
pacientes e familiares. Estratégias preventivas têm alcançado maior impacto
positivo na minimização das incapacidades funcionais de longo prazo associadas
ao PICS. Algumas delas incluem a limitação do uso de sedação profunda e o
incentivo à mobilidade precoce nos pacientes internados em UTI, juntamente com
terapia física e ocupacional. Intervenções adicionais, a partir do aporte
teórico da psicologia da saúde, poderão ser utilizadas como ferramenta
holística para fornecer apoio e cuidados ao paciente e à família.
Tão interessante perceber que buscou adotar um nome para algo que nós psicólogos da área hospitalar já observávamos, essas reações à internação em UTIs, seja no paciente, seja nos familiares. Claro que toda parametrização ajuda, mas serve de norteador que cabe pensar em particularidades de cada caso. Além disso, acredito que cabe na avaliação psicológica do psicólogo que acompanhe compreende o histórico de internações na família ou do próprio paciente, tendo em vista que a depender da forma como se procedeu nessas experiências, poderemos indentificar mais ou menos resiliência no caso de PICS. Claro que algumas formas de tratamento das PICS exige uma disponibilidade da instituição, que muitas vezes não se compromete, ou mesmo de condições dos profissionais conseguirem conciliar com a alta demanda diante dos poucos psicólogos disponíveis nas instituições hospitalares. Bom, fica a reflexão... Parabéns Dani pelo tema trazido! Andressa Pontes
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