Terapia de aceitação e compromisso (ACT) e estigma: Revisão narrativa


Monteiro, É. P., Ferreira, G. C. L., Silveira, P. S. D., & Ronzani, T. M. (2015). Terapia de aceitação e compromisso (ACT) e estigma: Revisão narrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas11, 25-31. doi: 10.5935/1808-5687.20150004

Resenhada por Maísa Carvalho

A estigmatização ocorre quando alguma particularidade de um determinado indivíduo (ou grupos) é atribuída como socialmente inaceitável ou inadequada, tornando-o incapacitado para a aceitação social plena. Entretanto, esse processo também pode vir a se desenvolver internamente, quando o indivíduo atribui e aplica em si mesmo o rótulo gerado pelo estigma público como verdadeiro, gerando ainda mais consequências negativas em sua saúde e vida social. Esta revisão narrativa visou explanar a possibilidade de eficácia da Terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment Therapy - ACT) no tratamento de questões relacionadas ao estigma, visto que esta é uma abordagem que vem demonstrando evidências positivas para o tratamento de diversas condições em saúde mental.
A ACT é integrante das abordagens cognitivo-comportamentais de terceira onda, um grupo que, diferentemente das mais antigas, é mais sensível ao contexto e funções do fenômeno psicológico. Sendo assim, a ênfase se dá sobre a forma como o indivíduo interage com o mundo e não apenas como pensa ou se comporta. A abordagem clínica em questão apresenta como raiz teórica a Relational Frame Theory (RFT), uma teoria analítica comportamental que postula que o núcleo da linguagem e cognição humanas é aprendido e contextualmente controlado para fazer a relação de eventos e alterar funções de outros.
O principal conceito da ACT é a flexibilidade psicológica, tido como a capacidade do indivíduo se conectar com o momento presente e com suas experiências internas, que, de acordo com o contexto, podem persistir ou ser alteradas por ele em prol de novos objetivos. Para aumentar essa flexibilidade, a abordagem faz uso de seis processos psicológicos de mudança, a saber:
1)      Aceitação: Definida como a ação de acolher as experiências internas, visando diminuir o esforço para mudá-las;
2)      Desfusão cognitiva: Tenta-se reduzir a atribuição de significados das experiências internas, de modo que os pensamentos são só pensamentos, sentimentos apenas sentimentos e comportamentos como apenas comportamentos;
3)      Estar presente: Uma atenção flexível, fluida e voluntária para questões internas e externas como ocorrem, evitando julgamentos, de forma a minimizar o impacto de um mundo cognitivamente construído;
4)      Eu como contexto: Em resumo, o que indivíduo acredita ser;
5)      Valores: Elementos pelos quais o indivíduo se preocupa e se motiva para alcançar determinados objetivos;
6)      Ação comprometida: A aplicação dos valores do indivíduo em seus objetivos e metas pessoais.
Por ser uma abordagem recente, especificamente firmada na literatura no final da década de 90, a ACT possui uma base empírica pouco robusta. Entretanto, no que se refere a temática do estigma, pesquisas narradas no estudo que utilizaram instrumentos baseados nos aspectos teóricos da ACT e também intervenções realizadas com esta abordagem demonstraram resultados bastante satisfatórios e eficazes quanto a resolução de problemas envolvendo o processo de estigmatização. Com base no exposto, o desenvolvimento de novas pesquisas sobre a eficácia da ACT em relação com a Psicologia da Saúde pode beneficiar a produção de intervenções em prevenção, promoção e tratamento, especialmente em saúde pública, aumentando ainda mais a diversidade de aplicações com populações mais carentes.

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