Estratégias de enfrentamento de pacientes com transtornos mentais


Lima, M. F., & Ferreira, C. B. (2018). Estratégias de enfrentamento de pacientes com transtornos mentais. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 13(2), 1-15.

Resenhado por Márcio Diego Reis

Por muito tempo, os portadores de sofrimento mental foram associados a estereótipos negativos, tais como indivíduos irracionais e que representavam perigo à sociedade. Esses indivíduos eram tratados em hospitais psiquiátricos e/ou manicômios, geralmente em condições precárias com frequente negligência e maus tratos.
Em 1978 começam a surgir no Brasil os primeiros movimentos construídos por familiares e organizações sociais que denunciam o sofrimento vivido pelos internos dos hospitais psiquiátricos. Esses movimentos caracterizaram a reforma psiquiátrica brasileira e é em meio a essa luta que surgem os primeiros Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), visando à humanização das práticas de assistência aos pacientes com transtornos mentais. Adotam-se, no CAPS, assim como preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), os princípios de cuidado no modelo biopsicossocial.
Mesmo com o modelo do CAPS, a convivência com o um transtorno mental causa mudanças drásticas tanto para o indivíduo quanto para os familiares, pois envolve o uso de medicamentos, exige uma atenção especial ao indivíduo, e o acompanhamento de profissionais de saúde. Assim, toda uma reestruturação familiar e demandada, a fim de encontrarem estratégias para melhor lidar com o sofrimento experimentado na convivência com o transtorno.
As estratégias de enfrentamento (coping) são processos que envolvem esforços cognitivos e comportamentais do indivíduo para lidar com determinadas demandas internas e externas que são por ele avaliadas como além dos seus próprios recursos. Existem dois tipos de enfrentamento: o enfrentamento focalizado no problema e o enfrentamento focalizado na emoção. Nas estratégias de enfrentamento focalizadas no problema os esforços estão voltados para a definição do problema com a intenção de produzir alternativas de solução baseadas no custo benefício. Nas estratégias de enfrentamento focalizada na emoção, o indivíduo avalia que não pode modificar as condições do ambiente e que essas mudanças devem acontecer no seu estado emocional.
A presente pesquisa esteve centrada nas estratégias de enfrentamento de usuários de um CAPS que conta com uma equipe multidisciplinar e está localizado numa cidade do interior de Goiânia. O instrumento utilizado foi uma entrevista semiestruturada, com o objetivo de identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos participantes. As estratégias de enfrentamento foram analisadas e ancoradas na teoria de coping e em estudos sobre a temática do enfrentamento para pacientes crônicos.
Sobre as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos entrevistados, seus depoimentos mostraram a utilização de estratégias focadas no problema e focadas na emoção, além de outras estratégias que foram relevantes no processo de enfrentamento, a exemplo da fé, a religiosidade e o suporte social. A pesquisa possibilitou identificar um amplo leque de estratégias utilizadas pelos indivíduos a fim de amenizar o sofrimento que o transtorno psíquico acarreta.
Assim, como sofrimento psíquico é um tema pouco estudado em usuários de saúde mental, bem como em pacientes com doenças crônicas, a Psicologia da saúde pode contribuir com estudos e possíveis estratégias que diminuam o sofrimento do paciente e seus familiares. Tais ações também poderiam contribuir com a valorização da subjetividade do paciente, auxiliando na construção do seu próprio projeto terapêutico.

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