Intervenção Cognitivo-Comportamental em Transtorno de Personalidade Dependente: Relato de Caso
Zanin, C. R., &
Valerio, N. I. (2004). Intervenção Cognitivo-Comportamental em Transtorno de
Personalidade Dependente: Relato de caso. Revista
Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 081-092.
Resenhado por Keylla
Carvalho
O
Transtorno de Personalidade Dependente (TPD) é definido como um padrão de
comportamento submisso e dependente, juntamente com uma necessidade excessiva
de ser cuidado e protegido. Tais indivíduos tem uma percepção de si mesmos como
sendo incapazes de funcionar sem o auxílio de outras pessoas e possuem grandes
dificuldades em tomar decisões sem o conselho ou reasseguramento de outros.
Dessa forma, mostram-se como pessoas passivas, evitam responsabilidades e
permitem que outros tomem decisões importantes por eles. Este é um transtorno
relativamente comum na prática clínica, sendo diagnosticado com mais frequência
em mulheres. Seu início, geralmente, se dá no começo da idade adulta e tem seu
curso crônico.
É
importante ressaltar que tais indivíduos tendem a apresentar pensamentos
automáticos negativos como: “Eu não consigo sobreviver sem alguém que tome
conta de mim”, “Se eu fosse mais independente ficaria isolada e só”,
“Independência significa estar completamente só”. Assim, fazendo uma avaliação
racional dos pensamentos, nota-se que a principal distorção cognitiva do TPD é
o pensamento dicotômico com respeito a independência. As pessoas que sofrem
desse transtorno acreditam que ou se é completamente dependente e indefeso ou
independente e só; não existe meio termo. Da mesma forma é vista sua capacidade
para variadas situações, se não agirem de uma forma “completamente adequada”
são vistos como “um fracasso total”.
O
objetivo deste estudo foi demonstrar o impacto da intervenção
cognitivo-comportamental na redução das características sintomáticas do TPD. Participou
dessa pesquisa uma universitária de 24 anos, submetida a 28 sessões. Foram
utilizadas entrevistas, critérios diagnósticos para TPD, Inventário Beck de
Depressão, Inventário de Ansiedade Traço-Estado, e para intervenção,
estratégias e técnicas cognitivo-comportamentais como instrumentos de medida. O tratamento
cognitivo-comportamental incluiu avaliação inicial, registro de pensamentos
disfuncionais, reestruturação cognitiva, treino de assertividade, relaxamento,
treino de habilidades sociais, exposição, ensaio comportamental, envolvendo role-playing e treino para autonomia,
que foi um objetivo inicial do tratamento, o desenvolvimento da autonomia do
indivíduo. Tais técnicas visaram a aumentar a autoconfiança e autoeficácia em
todos os aspectos da vida.
Os resultados deste
estudo constataram que a intervenção cognitivo-comportamental teve um impacto
positivo no tratamento do TPD, principalmente na redução dos sintomas de
ansiedade e depressão, por meio da modificação de crenças centrais e aumento do
seu repertório comportamental e cognitivo. Houve diminuição significativa nas
queixas características do TPD: a pessoa em questão passou a tomar decisões sem
uma quantidade excessiva de conselhos, assumir responsabilidades em grandes
áreas da vida, expressar discordância de outros, encontrar prazer em momentos
que está só, pensar de forma mais racional, dentre outras mudanças. Após a alta
ela foi acompanhada por um período de oito meses e se constatou a manutenção
dos ganhos terapêuticos.
Finalmente, salienta-se a importância de
estudos como este para a psicologia da saúde, visto que tal diagnóstico é
relativamente comum no contexto de saúde mental atual. Assim, é importante que
os profissionais de saúde mental se mantenham atualizados acerca do TPD, bem
como formas de tratamento eficientes, visando um melhor
prognóstico do indivíduo.
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