Como a ansiedade de saúde influencia as respostas a surtos virais como COVID-19: o que todos os tomadores de decisão, autoridades de saúde e profissionais de saúde precisam saber
Asmundson, G. J. G., & Taylor, S. (2020). How health anxiety
influences responses to viral outbreaks like COVID-19: What all
decision-makers, health authorities, and health care professionals need to know.
Journal of Anxiety Disorders, 71.
doi: 10.1016/j.janxdis.2020.102211.
Resenhado por Michelle Leite
A
ansiedade de saúde pode ser definida pela interpretação das sensações ou
alterações corporais percebidas como sinais de estar doente. Ela pode ser
protetiva, quando auxilia na identificação precoce de doenças e estimula
comportamentos de promoção de saúde, mas também pode ser prejudicial quando se
torna excessiva. Em níveis elevados de ansiedade de saúde, as interpretações
das mudanças corporais são catastróficas e se relacionam a crenças
disfuncionais sobre saúde e doença e a comportamentos inadequados de
enfrentamento. Indivíduos com uma alta ansiedade em saúde possuem crenças de
que são pessoas fracas ou vulneráveis ao adoecimento e que qualquer sensação ou
alteração corporal, mesmo que inofensiva, é sinal de doenças. Logo, diante de
uma pandemia mundial de COVID-19, esses indivíduos acreditam que uma simples tosse
momentânea ou um espirro são evidências de que estão infectados, aumentando sua
ansiedade e impactando seu comportamento.
Essa
variável psicológica é um fator importante quando se trata de saúde pública e
cenários de epidemia, pois está relacionada às respostas das pessoas em relação
à práticas de prevenção, como higiene adequada, distanciamento social,
comunicação de risco, vacinação e terapia antiviral. Quando excessiva, a
ansiedade de saúde pode provocar respostas de dois tipos: evitação da procura
por assistência médica, mesmo quando necessário, pois as pessoas podem
considerar os hospitais como fontes de contágio; ou o inverso, a procura
excessiva da avaliação médica como forma de corroborar ou não o possível quadro
infeccioso. O segundo tipo de comportamento provoca consequências importantes
uma vez que, os pacientes preocupados com sua saúde, mas não de fato
contaminados, podem superlotar as emergências médicas, provocar um fardo nos
recursos de saúde e entrar em contato com pessoas possivelmente contaminadas.
Comportamentos de segurança
desadaptativos são estratégias comuns adotadas pelas pessoas com alta ansiedade
de saúde. Além da procura exorbitante pelos serviços de saúde, a lavagem
excessiva das mãos, preocupação demasiada e gastos abundantes no armazenamento
de recursos de proteção (álcool em gel, máscaras faciais e medicamentos) são
presentes e causam impactos prejudiciais tanto para o indivíduo, como também
para aqueles que efetivamente estão infectados ou em contato com o vírus
(profissionais de saúde, por exemplo) e que necessariamente precisam desses
recursos. Quando o contrário ocorre também é prejudicial, ou seja, indivíduos
com baixa ansiedade de saúde e que acreditam estarem protegidos dos riscos de
infecção, desconsideram as recomendações preventivas acerca da contaminação e
impactam negativamente os esforços para contenção da propagação viral.
Diante
da pandemia do COVID-19 é esperado que as pessoas apresentem algum grau de
preocupação com a segurança pessoal. A ansiedade de saúde é uma variável
psicológica importante para o entendimento de como as pessoas respondem a um
surto viral e pode ser utilizada na elaboração de estratégias de contenção de
disseminação viral. Psicólogos da saúde devem contribuir na construção do
conhecimento específico relacionando a ansiedade de saúde ao COVID-19 e auxiliar
na criação dos programas de comunicação do risco ao público, se certificando
que as mensagens têm sido corretamente entendidas pela comunidade, e na
orientação à população acerca do enfrentamento à pandemia e diminuição da
ansiedade.
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